Muitos clientes já me pediram um diagnóstico de forma mais ou menos explícita. “Tenho depressão, bipolaridade, esquizofrenia?” No entanto, o que procuram com o diagnóstico? Qual é a função dele?

Para o cliente, o diagnóstico pode representar uma esperança de compreender o que se passa consigo e de passar pelo tratamento adequado. Para o psiquiatra (médico), pode servir como ponto de partida para avaliação de um tratamento medicamentoso, e que pode ser útil para o paciente. Para a psicoterapia, pode ser o ponto final, o fim da possibilidade de mudança, dependendo de como o cliente se relaciona com o diagnóstico.

O diagnóstico de transtorno mental consiste em um conjunto de sintomas. Quando a pessoa cria uma forte identificação com os sintomas, tende a focar apenas no que está disfuncional nas suas emoções, pensamentos, relações, organismo. Acredita que a doença a define. “Sou bipolar”/“sou depressivo”. Eis que surge a impotência diante do próprio sofrimento.

É o que Helm Stierlin, professor de Psiquiatria da Universidade de Heidelberg – Alemanha, chama de “excomunicação”. Ele e seu grupo de pesquisadores investigaram ao longo de 15 anos pessoas com diagnóstico de esquizofrenia, transtorno bipolar e transtorno esquizoafetivo. “Excomunicação” é um termo adotado pela equipe para denominar todo esse processo de rotulação da pessoa como louca, psicótica e que vai promovendo a cristalização dessa percepção e o reducionismo da pessoa a esse rótulo. A estigmatização tende ao desligamento do paciente de maneira que ele fica ainda mais afastado da realidade. Os processos desencadeantes da “excomunicação” foram descritos pelo psiquiatra inglês R. Dennis Scott em 1967, embora não tenha usado este termo, e sim o termo “desligamento” e também “assassinato da identidade”. Ou seja, está comprovado que o diagnóstico pode produzir mais sofrimento do que já existe.

Em vez de criar essa autopercepção reducionista e limitadora, a psicoterapia sistêmica aposta nos recursos saudáveis que o cliente tem ou pode desenvolver. Trabalhando com a saúde, e não com a doença, o cliente utiliza sua própria potência para se transformar. Portanto, enxergamos o indivíduo muito além do diagnóstico.

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