Quando duas pessoas na família não conseguem lidar com suas dificuldades, podem buscar aliança com uma terceira pessoa. Essa aliança pode aliviar o estresse na medida em que aquelas duas pessoas se afastam. Mas o resultado costuma ser desastroso: a tensão não é resolvida, surgem distanciamento emocional e novos conflitos.

Essa união de duas pessoas em relação ao terceiro é chamada de “triangulação” e é muito frequente nas famílias. O triângulo se forma porque as duas pessoas não fazem circular suas tensões através do diálogo. Se assim fizessem, poderíamos dizer que viveriam uma relação mais parecida com um “círculo” e não com um triângulo.

Triângulo pai-filho: um triângulo muito comum é a aliança de um dos pais com o filho contra o outro pai, que fica de fora. É mais frequente o pai se aliar à filha contra a esposa, e a mãe se aliar ao filho contra o marido. Por exemplo, o filho se aproxima da mãe e mantém uma relação conflituosa com o pai. Se esse padrão de relação ocorre regularmente, é provável que esteja se tratando de um triângulo.

Triângulos mais comuns entre os casais: o casal pode triangular não somente com os filhos, mas também com outras pessoas (sogros, amante etc), animais (o cachorro da família, por exemplo) ou coisas (como a TV, a internet, o álcool, o trabalho).

O casal desvia dos seus próprios conflitos para focar em algum problema com a mãe de um deles. A esposa pode acusar a sogra pelas inadequações do seu marido, enquanto a sogra acusa a nora por manter afastado o seu filho favorito.

Outro exemplo: quanto mais próximo o cônjuge “A” fica do seu trabalho, do álcool ou da internet, mais negativo o cônjuge “B” se torna em relação ao outro e ao objeto de sua afeição. Quanto mais negativo fica o cônjuge “B”, mais o cônjuge “A” se aproxima da coisa que foi triangulada.

Triângulos em famílias divorciadas e recasadas: no divórcio, as crianças podem idealizar o pai ausente, culpando a mãe que está com a guarda pela perda do pai. Também é possível que os filhos fiquem no meio da guerra dos pais, um deles tomando partido de um e o outro ficando do lado do outro.

Quando os pais se casam novamente, outros triângulos podem surgir, como o triângulo formado entre os filhos, pai biológico e a madrasta. Os filhos podem encarar a nova esposa como a “madrasta má”. A madrasta pode se sentir ameaçada de que seu marido dê mais atenção para os filhos do que a ela, e o marido se sente dividido entre a esposa e os filhos.

Para sair do lugar de terceiro nos triângulos, é necessário desenvolver a chamada diferenciação. Isso significa se relacionar de forma individualizada com cada pessoa, sem tomar partido por nenhuma das partes, sem contra-atacar nem se defender. Por exemplo, a filha teria um relacionamento de proximidade com a mãe, mesmo que o pai, de quem ela também é próxima, esteja em conflito com a mãe.

Da mesma forma, o casal pode enfrentar o desafio de lidar com a tensão existente entre si, em vez de buscar aliados. Tendo mais consciência daquilo que incomoda a cada um e podendo conversar sobre isso, cria-se uma relação mais circular, mais aberta ao diálogo, com atitudes menos reativas e mais objetivas. Assim, a família não se machuca com as pontas dos triângulos e pode deitar e rolar com a suavidade dos círculos.

Fonte:

McGoldrick, Mônica; Gerson, Handy; Petry, Sueli. Genogramas: avaliação e intervenção familiar. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.

 

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