Infelicidade no casamento ou na profissão, filhos em sofrimento após a separação dos pais, assim como depressão, obesidade, anorexia entre outros quadros clínicos podem estar a serviço da lealdade a alguém da família em um nível inconsciente. Ser leal, nesse caso, representa atender as expectativas implícitas da família de origem e ignorar as próprias necessidades ou desejos.

A família estabelece quais são os direitos e os deveres de cada membro. Para ser um membro leal, é necessário cumprir o que a família espera dele. Os pais garantem que o filhos pequenos cumpram as expectativas através de medidas disciplinares, como punições, imposição de horários e rotina etc. Quando os filhos são maiores ou até adultos, podem cumprir o compromisso com a família através de lealdade internalizada. Ou seja, não é necessário alguém anunciar a expectativa, o filho já internalizou-a e a cumpre para se sentir pertencido à família. Muitas vezes o filho apenas executa essas ordens sem ter consciência da pressão invisível da família.

Em geral, temos a necessidade de nos sentir pertencido ao grupo familiar. Por isso tendemos a seguir as leis criadas pela família. Descumprir o mandato da família pode gerar sentimentos de culpa, de dívida e o medo da exclusão. São esses sentimentos que forçam a execução das ordens invisíveis da família.

A lealdade invisível pode estar presente no casamento. Quando duas pessoas formam um casal, podem viver um conflito entre a lealdade à sua família de origem e à nova família. O casal precisa fazer uma separação da sua família de origem para criar uma identidade própria do casal. Do contrário, um parceiro pode estar mais casado com sua família de origem do que com seu cônjuge. Se a escolha do parceiro for reprovada pela família de origem por exemplo, existe o risco de o cônjuge ser mais leal à família de origem. O resultado disso é a infelicidade do casal.

O mesmo acontece com a escolha profissional. O filho pode assumir a responsabilidade de continuar os negócios da família ou exercer a profissão desejada pelos pais, ainda que não se sinta realizado com essas escolhas.

Outro exemplo é a obesidade. O filho obeso pode, por exemplo, se colocar diante do seu emagrecimento como uma traição aos familiares obesos. Mantendo sua obesidade, garante seu sentimento de pertencimento à família.

Muitos outros exemplos poderiam ilustrar situações de lealdade. O importante é saber que quando existe o sofrimento por ser a leal à família, é fundamental olhar para os sentimentos que levam a entrar nessa cilada: o medo de ser excluído da família e para a culpa de não estar fazendo o que é “certo” dentro das expectativas dos outros. Da mesma forma, sair desse emaranhamento passa por avaliar o preço que se paga por ocupar o lugar de membro leal. Além do mais, muitas vezes a desobediência a mandatos familiares pode trazer conflitos interpessoais, no entanto o sentimento que une a família pode superá-los.

Para evitar a culpa de uma suposta traição à família, o preço pode ser alto. Por outro lado, a lealdade à própria felicidade também pode criar uma tensão na relação com os familiares. Mas ser leal a si mesmo, com respeito e amorosidade, traz a possibilidade de uma vida mais livre e leve, e, se possível, sem perder o sentimento de fazer parte da família.

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