Existe um jogo mútuo e tenso na sua relação conjugal?

Para Jürg Willi, psicoterapeuta e psiquiatra suíço, esse jogo é comum aos casais. É o que ele chama de colusão: um jogo recíproco e não confessado, oculto por dois ou mais companheiros.

Esse jogo se configura a partir de um conflito fundamental similar aos cônjuges. Trata-se de um conflito não superado e construído na história individual pregressa, que se manifesta na interação do casal. Pode-se ter a impressão de que os companheiros são contrários ao outro, no entanto eles ocupam polos da mesma questão.

Bem, as colusões foram nomeadas por Jürg Willi com base na teoria psicanalítica do desenvolvimento infantil (embora seja um terapeuta sistêmico) com os seguintes termos: relação narcisista (o amor como ser um), a relação oral (o amor como ser cuidado), a relação anal-sádica (o amor como se um pertencesse ao outro) e a relação fálico-edipal (o amor como prova da eficácia masculina).

A seguir, vamos trazer um pouco sobre cada colusão. Se tiver interesse em conhecê-las mais a fundo, sugiro ler o capítulo “Visita às Colusões”, escrito por Dalmo Silveira de Souza, do livro “Relações de Casal: tempo, mudança e práticas terapêuticas” (2005). As obras de Jürg Willi ainda não foram traduzidas para o português, infelizmente.

Na relação NARCISISTA, a pergunta que expressa o conflito fundamental é: “Até que extremo podem exigir o amor e o matrimônio que eu me entregue a meu companheiro e até que grau eu posso continuar sendo eu mesmo numa relação de casal?” (Souza, 2005).

Nessa colusão, nenhum dos membros do casal pode preservar sua individualidade, pensar de modos diferentes. Exige-se que haja uma doação e entrega totais, uma fusão sem discordâncias, ainda que um deles não se sinta capaz de estar na relação.

A pessoa com características narcisistas quer um companheiro exclusivo, mas que não se intrometa nas suas questões pessoais. Em complementação, o companheiro dessa pessoa busca se sentir feliz ao se identificar com um narcisista idealizado.

Assim, a interação ocorre como se o narcisista dissesse: “Eu posso ser tão grandioso porque tu me admiras com tanta exaltação”, ao passo que o narcisista complementar diria: “Eu posso te adorar com tanta exaltação porque tu és para mim grandioso” (Souza, 2005).

Enfim, a principal aprendizagem para o casal que estabelece uma colusão narcisista é estabelecer limites mais claros, mais flexíveis para a relação até terem consciência de que um é diferente do outro.

Na próxima publicação, vamos falar um pouco sobre as demais colusões: o amor como ser cuidado, o amor como se um pertencesse ao outro e o amor como prova da eficácia masculina.

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